Um pouco de mim

Os Novos Movimentos Religiosos começaram a ganhar destaque e estudo no meio acadêmico lá pela década de 70, nos Estados Unidos. Atualmente, o fenômeno ganhou força e seguidores de todas classes sociais em vários países. Estudar a fenomenologia dos NMR's não é uma tarefa fácil, mas é altamente gratificante tentar compreender essa nova espécie de religiosidade ditada por eles.

Participei de muitas reuniões esotéricas realizadas em um apartamento numa região nobre do estado, era um entra e sai, os demais moradores estranhavam aquela movimentação, alguns até suspeitavam, mas não sabiam o que acontecia, já que era tudo feito de forma cuidadosa e sigilosa, quem passasse no corredor iria ouvir música New Age e sentir o cheiro do incenso queimando, então, era um bafafá só, rolava constantemente, a nossa amiga M. dizia que era um grupo de ajuda humanitária e que nós estávamos lá para rever nossas metas e criar novos planos de ação, não sei se o povo acreditava muito, isso acontecendo entre 97 e 99, era divertido. Nesse período já observava que em classes mais "pobres", era comum essa parcela da população, abraçar com todas as suas forças os Movimentos Evangélicos Neopetencostais, e entre as classes mais "ricas ou intelectuais", os Movimentos Espiritualistas de ares mais New Age, embora visse uma diferença no agir e querer ser transformado, os medos e anseios diante de uma sociedade em caos e sem rumo definido, eram os mesmos, pois ambos estavam querendo se encontrar, ser alguém. Essa "busca" hoje mudou significantemente, a religião dita de "pobre", as famosas Igrejas Petencostais e NeoPetencostais, numa velocidade assustadora, está crescendo e multiplicando em bairros mais nobres, já que "rico também pode ser avivado e passar pelo buraco da agulha", com algumas dizendo que você pode ser rico em vida e ter a salvação eterna, na verdade uma visão rearranjada de um dos muitos conceitos trazidos pela Reforma Protestante, indo contra a pobreza exaltada pelo clero católico e pelos seus muitos mártires.

Fazer partes desses NMR's de cunho mais New Age, como também os de cunho mais cristão avivado (mas aqui é mais comum encontrar pessoas carecendo de coisas básicas como lazer, saúde e estudo, então, acaba sendo mais fácil você viver para estas religiões) é um trabalho de "desapego conturbado", chega um momento nesses movimentos - isso acontece com freqüência - que a pessoa esquece que existe vida além daquele grupo. Nesta caminhada, me deparei com pessoas que tinham estudos, bens, que de uma hora para outra resolviam doar o que tinham, ficando na espera de um "chamado" para viver numa região de montanha, num pequeno vilarejo criado para eles sobreviverem o "fim mundo", fui no local, contarei melhor sobrei isso depois. Quando leio alguns autores criticando ou analisando esses NMR's como algo negativo para uma realidade humana sensata e equilibrada, não os condeno, mas também não posso admitir que muitas dessas tais pessoas em determinados grupos, são alienadas por completo, igual já li e ouvi muita gente dizer. Bellah, (1986) [1], acredita que isso é uma resposta a crise da Modernidade, de certa forma é mesmo, as pessoas perderam seus sonhos, não tem mais base, estão perdidas em seus próprios medos, um NMR e um líder que resgate isso, acaba sendo endeusado. A acolhida em certos grupos de avivamentos critãos é bem maior do que nos meios nova-eristas, enquanto nesse último, a busca comumente é individual, solitária e intransferível, nos new gospel, é coletiva, as pessoas são abraçadas, ouvidas, os membros se auto-convidam para fazer orações em suas casas, redes de apoio mútuo são criados, a pessoa foi "libertada". Agora dizer que esse isolamento não ocorre em grupos religiosos tradicionais é mentira, ocorre tanto quanto nos meios mais modernos e avivados de busca espiritual.

Indiretamente fiz muita gente passar raiva, já que muitos desses líderes enxergavam em mim um potencial para ser sacerdote ou guru, por estudar e ler um pouco demais sobre suas crenças, embora goste bastante de estudar a religião, nunca fui de ter apego demais a esses movimentos, isso para muita gente era frustante, como pode conhecer e não querer fazer um papel evangelizador, de "resgatador de almas", como sempre gosto de observar e com toda sinceridade digo isso, alguns grupos realmente me encantam, devido as suas "teologias" serem bem construída, mesmo sendo fantástica e fantasiosa demais, mas estudar/pesquisar tais grupos é uma coisa, fazer parte é outra. No grupo esotérico da M. ouvi uma frase que repito até hoje, "Nós devemos receber, polarizar e emanar o que a gente ouve no dia-a-dia", uma forma bonita e profunda para o bom e velho ditado "...ouvir, tirar o que é bom e colocar em prática", mas será que só isso resolve? As pessoas até que estão ouvindo e colocando muita coisa em prática, mas não estão agindo com olhos espirituais, já que fazer apenas o bem, não sana os males do espírito que tanto aflige a sociedade.

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[1] - BELLAH, Robert N. A nova consciência religiosa e a crise da modernidade, 1986.

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